21.8.05

Anodorhynchus hyacintinus


Desfraldando ao conjunto fictício dos céus estrelados
o esplendor do sentido nenhum da vida...


Toquem num arraial à marcha fúnebre minha!
Quero cessar sem consequências...
Quero ir para a morte como para uma festa ao crepúsculo.

Álvaro de Campos

20.8.05

Eclectus roratus


Chorar é como uma tentativa para se morrer. A seguir o programa é carregado de novo.
Há pessoas lá fora à volta da casa. Para adormecer preciso de um caos à minha volta.
Um estratagema de sobrevivencia, dominio de agressividade.
Eu estou no meu quarto.

14.8.05

Deroptyus accipitrinus


É preciso ultrapassarmos a concepção rígida duma adaptação definida como a adquação perfeita de uma espécie a um meio determinado. Esta perfeita adaptação torna-se inadequada e fatal desde que aconteça uma modificação das condições de adaptação.
A aptidão para se adaptar em diversas condicões ou em diferentes meios favorece a sobrevivência.
A noção rica de adaptação significa adaptatividade, isto é, aptidão a adaptar-se e a readaptar-se (traço comum aos micróbios, a certos mamíferos e ao homem).
A adaptação aparece-nos como o efeito da aptidão de um ser vivo não só para subsistir em condições geofísica dadas, mas também para constituir relações complementares/antagónicas, com outros seres vivos, para resistir às concorrências/competições, e confrontar os acontecimentos aleatórios próprios do ecossistema em que se integram.
Edgar Morin

6.8.05

Latah


Os sacerdotes astecas despem a túnica de penas azuis ao jovem nu. Deitam-no de costas num altar de granito e colocam-lhe um crânio de cristal sobre a cabeça fixando os dois lóbulos com parafusos de cristal. Uma queda de água desaba sobre o crânio quebrando o pescoço ao rapaz que ejacula em arco-íris à luz do sol nascente.
O odor ocre a proteína do esperma paira no ar. Os convidados acariciam os adolescentes que se contorcem, chupam-lhes a picha e penduram-se nas costas deles como vampiros.
Salva-vidas nus transportam pulmões de aço cheios de jovens paralíticos.
Garotos cegos saem de enormes bolos, esquizofrénicos degenerados jorram de uma cona de borracha, rapazinhos com horríveis doencas de pele emergem de uma lagoa puluída (onde peixes mordiscam cagalhões amarelos que por lá flutuam).

Divãs, cadeiras, e até mesmo o chão, comecam a vibrar, transformando os convidados em fantasmas cinzentos e tremidos que, atados pela picha, uivam de agonia.
William burroughs

1.8.05

Animais!


"(...)
Durante 99.9% do tempo de existência da nossa espécie, fomos caçadores recolectores, errando pelas savanas e pelas estepes. Nessa altura não existiam guardas fronteiriços nem alfandegarios. A fronteira estava em todo o lado. Só a terra, o oceano e o céu nos detinham --- além de vizinhos mal-humorados.
Porém, quando o clima era favorável e a comida abundante, não nos importávamos de ficar por ali. Prudentes. Gordos. Descuidados. Nos últimos 10 000 anos --- um instante na nossa longa história --- abandonámos a vida nómada. Domesticámos as plantas e os animais. Porquê perseguir a comida quando a podemos fazer vir até nós.(...)"